terça-feira, 6 de julho de 2010

O Caralho


GREGÓRIO DE MATOS nasceu na Bahia aos 23 de dezembro de 1623. Oriundo de uma família portuguesa abastada, que fez fortuna depois de deixar a Corte para colonizar as terras hoje chamadas Brasil, ele é conhecido como Boca do Inferno por conta das suas sátiras ferinas e virulentas, sempre prontas a atacar os poderosos, os dogmas, os moralistas e os “bons costumes” da velha Cidade da Bahia. Por essa razão, sua obra, em especial sua poesia satírica, é considerada até hoje como uma das mais rebeldes e malditas da literatura brasileira. As décimas abaixo foram escritas para explicar o que vem a ser um tal de caralho para uma freira que ele desejava arrastar para as delícias do paraíso. Há quem diga que o poeta tinha um fraco por hábitos. O que não se sabe é se a tal freirinha lhe fez essa pergunta por pura ingenuidade, afinal, sua condição exigia dela total comedimento, ou por uma lúbrica troça de santa do pau oco.


A UMAS FREIRAS QUE MANDARAM PERGUNTAR POR OCIOSIDADE AO POETA A DEFINIÇÃO DO PRÍAPO E ELE LHES MANDOU DEFINIDO, E EXPLICANDO NESTAS.


DÉCIMAS


1


Ei-lo vai desenfreado,
que quebrou na briga o freio,
todo vai de sangue cheio,
todo vai ensangüentado:
meteu-se na briga armado,
como quem nada receia
foi dar um golpe na veia,
deu outro também em si,
bem merece estar assi [assim],
quem se mete em casa alheia.


2


Inda que pareça nova,
Senhora, a comparação,
É semelhante ao Furão [mamífero usado em caçadas para tirar coelhos das tocas],
que entra sem temer a cova:
quer faça calma, quer chova,
nunca receia as estradas,
mas antes se estão tapadas,
para as poder penetrar,
começa de pelejar
como porco às focinhadas.


3


Este lampreão [pênis em ereção ou com orgasmo] com talo,
que tudo come sem nojo,
tem pesos como relojo [relógio],
também serve de badalo:
tem freio como cavalo,
e como frade capelo,
é cousa engraçada vê-lo
ora curto, ora comprido,
anda de peles vestido
curtidas já sem cabelo.


4


Quem seu preço não entende,
não dará por ele nada,
é como cobra enroscada,
que em aquecendo se estende:
é círio, quando se acende,
é relógio, que não mente,
é pepino de semente,
tem cano como funil,
é pau para tamboril,
bate os couros lindamente.


5


É grande mergulhador,
e jamais perdeu o nado,
antes quando mergulhado
sente então gosto maior:
traz cascavéis como Assor [divindade babilônica que vigiava a Grande Serpente],
e como tal se mantém
de carne crua também,
estando sempre a comer,
ninguém Ihe ouvirá dizer,
esta carne falta tem.


6


Se se agasta, quebra as trelas
como leão assanhado,
tendo um só olho, e vazado,
tudo acerta às palpadelas:
amassa tendo gamelas
doze vezes sem cansar,
e traz já para amassar
as costas tão bem dispostas,
que traz envolto nas costas
fermento de levedar.


7


Tanto tem de mais valia,
quanto tem de teso, e relho,
é semelhante ao coelho,
que somente em cova cria:
quer de noite, quer de dia,
se tem pasto, sempre come,
o comer Ihe acende a fome,
mas às vezes de cansado
de prazer inteiriçado
dentro em si se esconde, e some.


8


Está sempre soluçando
como triste solitário,
mas se avista seu contrário,
fica como o barco arfando:
quer fique duro, quer brando,
tem tal natureza, e casta,
que no instante, em que se agasta,
(qual Galgo, que a Lebre vê)
dá com tanta força, que,
os que tem presos, arrasta.


9


Tem uma contínua fome,
e sempre para comer
está pronto, e é de crer,
que em qualquer das horas come:
traz por geração seu nome,
que por fim hei de explicar,
e também posso afirmar,
que sendo tão esfaimado,
dá leite como um danado,
a quem o quer ordenhar.


10


É da condição de Ouriço,
que quando lhe tocam, se arma,
ergue-se em tocando alarma,
como cavalo castiço:
é mais longo, que roliço,
de condição mui travessa,
direi, porque não me esqueça,
que é criado nas cavernas,
e que somente entre as pernas
gosta de ter a cabeça.


11


É bem feito pelas costas,
que parece uma banana,
com que as mulheres engana
trazendo-as bem descompostas:
nem boas, nem más respostas
Ihe ouviram dizer jamais,
porém causa efeitos tais,
que quem exprimenta [experimenta], os sabe,
quando na língua não cabe
a conta dos seus sinais.


12


É pincel, que cem mil vezes
mais que os outros pincéis val [vale],
porque dura sempre a cal,
com que caia, nove meses:
este faz haver Meneses,
Almadas, e Vasconcelos,
Rochas, Farias, e Teles,
Coelhos, Britos, Pereiras,
Sousas, e Castros, e Meiras,
Lancastros, Coutinhos, Melos.


13


Este, Senhora, a quem sigo,
de tão raras condições,
é caralho de culhões
das mulheres muito amigo:
se o tomais na mão, vos digo,
que haveis de achá-lo sisudo;
mas sorumbático, e mudo,
sem que vos diga, o que quer,
vos haveis de oferecer
a seu serviço contudo.

A poesia é sugestão do amigo Rafael de Poá (SP).

4 comentários:

Rafael Angelo disse...

huahuaha a sua interpretação com fotografias deu um q a mais no poema com certeza... e pensar q esse poema fala do caralho tao explicitamente no século XVII uahauha n é a toa q Gregório de Matos ficou conhecido como "boca do inferno" hauhauha parabens maruko

Anônimo disse...

EU ACHO Q ESSE CARALEOOOO E FAMILIAR, NAO?!...kkkkkkkk

Ass: T.

Roads disse...

Eita laiá. Só Gzuis pra salvar. Eita Gregóriodemattos. Eita.

alguem disse...

nossa nem teu pra ler o poema so vir esse caralho cabeludo pena q e pequeno